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SOCIOLOGIA - 2º Ano Ensino Médio (Matutino e Vespertino)

  • Profª. Fernanda Serafim
  • 26 de mar. de 2020
  • 19 min de leitura

ESCOLA ESTADUAL ADVENTOR DIVINO DE ALMEIDA Professora Ma. Fernanda Serafim - SOCIOLOGIA – 2º Ano Ensino Médio (2ª Semana de Quarentena COVID-19 30/03/2020) Currículo:

A Matriz Afro – O povo brasileiro (Darcy Ribeiro) A desigualdade racial e os impactos do tráfico e escravização das sociedades africanas.

RACISMO, SUBTEXTO DA INTOLERÂNCIA RELIGIOSA Carta Capital 31/01/2018 Antes de mais nada, lembremos que a tolerância outrora tão enaltecida e reivindicada é altamente questionável por seu caráter limitado no que se refere a uma ética necessária ao convívio humano. Ser tolerante não é o mesmo que respeitar e reconhecer a legitimidade alheia tal qual a sua própria. Quem apenas tolera carrega ainda os vestígios de superioridade. De toda forma, estamos muito longe de sequer experimentar relações básicas baseadas neste princípio diminuto. Um caso emblemático se deu em 21 de janeiro de 2000. Nesta data, Mãe Gilda, uma Ialorixá do terreiro Axé Abassá, morreu vítima de um infarto decorrente da violência física e psicológica ocasionada por religiosos cristãos fundamentalistas. Mãe Gilda teve sua casa invadida, foi golpeada na cabeça com uma bíblia e chamada de charlatã, e seus objetos de culto foram destruídos… Depois de muito sofrer, seu coração não resistiu. Muitas outras atrocidades foram cometidas contra sua casa e sua família, e são cometidas ainda hoje contra o povo de axé. O exemplo do que aconteceu com mãe Gilda demonstra o quanto o que chamamos de intolerância tem se expressado de maneira perversa e violenta onde, em tese, deveriam ser espaço de seu contrário: as religiões. Há um certo pudor quando se fala em religião, mais precisamente quando se critica determinadas religiões. Um ditado diz, inclusive, que este é um dos assuntos que não se deve discutir. Assim, preconceitos, discriminações e desrespeitos de toda ordem abrigam-se facilmente sob a égide religiosa, com a vã argumentação de que é a “minha fé” ou “é assim que eu penso”… A ignorância em relação a práticas distintas da sua ganha uma roupagem de afirmação da própria crença, confundindo-se a liberdade de expressão religiosa com o “direito” a oprimir e destruir simbólica ou fisicamente outrem. Esta relação de afirmação e proselitismo de sua crença e rechaço, e muitas vezes combate a outras, não se aplica igualmente aos mais diferentes grupos que compõe o campo religioso brasileiro. Não se trata, portanto, de “apenas” não tolerar a todas as outras religiões diferentes da sua. Não quero diminuir com isso o peso da intolerância a outros grupos, mas evidenciar que no Brasil, por trás do que chamamos de intolerância religiosa, escondem-se outros fatores ainda mais perversos relacionados à história política e econômica do País. Aqui, em Terras Brasilis, o que observamos não são crenças conflitantes que se colocam da mesma maneira no campo de disputa por espaços, números e cifras. Mas o fato de grupos religiosos sem caráter proselitista serem perseguidos de maneira sistemática, violenta e absolutamente desproporcional. Estes grupos são, não coincidentemente, aqueles que praticam religiões de matriz africana. Não observamos a mesma violência e ataque sistemático ser cometido contra nenhuma outra manifestação religiosa. Portanto, quando estamos falando de intolerância religiosa no Brasil, estamos falando de uma manifestação do racismo. A outra ponta dessa história localiza-se na formação brasileira. O racismo da maneira como o conhecemos foi engendrado pela colonização política, econômica e religiosa. A Igreja Católica participou da empreitada colonizadora fornecendo os substratos ideológicos para sua legitimação e agindo ela própria na colonização religiosa. Sua contribuição na formação de um imaginário eugênico e racista, atribuindo a tudo que vinha da África um caráter inferior, não humano, sustentou ideologicamente o sistema econômico escravista. O catolicismo se estabeleceu nestas terras (citando apenas nosso caso específico) com muito sangue derramado, escravização e jugo das culturas nativas e africanas. Portanto, as implicações econômicas e políticas do racismo até a atualidade tem, dentre outros, vínculos religiosos Não é possível ocultar a responsabilidade do cristianismo no estabelecimento e na manutenção do racismo. Ainda que tenha sido uma versão institucional e exclusiva de cristianismo localizado em um tempo a partícipe direta nesta formação e ainda que não comunguemos de visões e práticas de racismo religioso na atualidade, é nosso dever como cristãos encarar e combater o privilégio de que gozamos por esta história perniciosa. Por outro lado, também não podemos negar que a diversidade cultural que acompanhou as diferentes etnias em sua diáspora forçada para o além-mar sobreviveram às aflições, crueldades e infortúnios e contribuíram para nossa formação cultural, arraigadas no cotidiano e mesmo nas crenças populares, rompendo as fronteiras institucionais. Esta é uma expressão de resistência negra e da riqueza cultural proveniente do imenso continente. Fato que contrasta com o imaginário racista que rechaça nossas raízes africanas. Assim como o samba e a capoeira foram criminalizados, entendidos como práticas de vadiagem. Ainda hoje o candomblé e a umbanda, as mais conhecidas, sofrem com o estigma racista que as associa ao mal. Esse é um exemplo de ignorância alimentada pelo racismo. Em 2007, nasceu o “Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa”, 21 de janeiro. A data passou, mas tenho certeza de que sempre é tempo de denunciar e combater o racismo, esteja onde estiver, inclusive em nós mesmos e dissimulado nos privilégios que gozamos. Prestamos ainda nossa homenagem e sentimentos à memória de Mãe Gilda e a seus filhos, como a todo povo do axé que luta por seu direito de existir, resistir e crer. A POPULAÇÃO NEGRA E O CORONAVÍRUS Lúcio Antônio Machado Almeida Portal Geledés – 16/03/2020 Recente reportagem no The New York Times, de 07 de março 2020, feita pelo jornalista John Eligon, chamou atenção para o risco do extermínio de populações negras e latinas, sobretudo as mais pobres, em razão da ausência de um atendimento adequado das mesmas pelos nossos sistemas de saúde. É sabido, que os nossos sistemas de saúde devolvem para a população negra um tratamento não-isonômico, ao qual podemos definir como uma das manifestações necropolíticas do racismo institucional. Assim, podemos definir o racismo institucional como práticas não isonômicas realizados pelos Estados onde a população negra se faz presente, especialmente na política institucional dos órgãos, entidades e serviços delegados de saúde. Convém, urgentemente, diante desse quadro de iminente pandemia, ficarmos atentos com o tratamento que será dado aos nossos idosos negros, crianças negras e, principalmente, aqueles que porventura encontram-se já doentes em face dos problemas originários do nosso percurso de discriminação racial que marcou e marca ainda as relações raciais no Brasil, EUA e tantos outros países. Assim, não entendemos a lentidão pela qual o governo brasileiro encontra-se no momento para fazer frente a tais ameaças, que, indubitavelmente, ponham em risco a população negra. Ora, o genocídio da população negra pode tomar contornos dramáticos se não forem tomadas as devidas providências acautelatórias para frear o triste evento do coronavírus. Por fim, registre-se, também, a conduta de nossas autoridades para com a população negra, se confirmarem a iminente omissão, os nossos movimentos negros, em suas diversas facetas, terão que denunciar tais omissões institucionais aos organismos internacionais. Há, sem sombra de dúvidas, uma situação na qual a população negra mais pobre, que ainda é a maioria em nosso país, possa sofrer danos irreversíveis em sua vida cotidiana. LEGADO VIVO: TRANÇAR O CABELO É MAIS DO QUE UM CÓDIGO ESTÉTICO Date: 04/03/2020 Por Priscilla Geremias Para a população negra, trançar o cabelo é mais do que um código estético, é herança de uma história de resistência, resiliência e ancestralidade, passada entre mulheres, geração após geração. Aqui, a repórter Priscilla Geremias conta de sua experiência com o penteado e de sua busca por saber mais sobre sua tradição Fiz tranças soltas pela primeira vez em 2017, quando estava no fim de um processo de transição capilar. Tinha medo de assumir os cachos de uma vez e mal lembrava a textura dos meus fios. Acompanho blogueiras negras no Instagram e You Tube e, por causa delas, fiquei sabendo de uma técnica para enfrentar essa fase: tranças. “Elas ajudam no crescimento e protegem o cabelo”, diziam. Convencida, pedi indicação de trancistas a uma amiga e fui ao encontro da profissional munida de uma referência: tranças coloridas que a influenciadora Josy Ramos já tinha usado. O penteado foi feito na sala da casa da cabeleireira Bia Soll, na zona sul da cidade de São Paulo, a uma hora de carro da minha. O processo todo levou cerca de sete horas, com uma pausa rápida para o almoço. Enquanto ela trançava extensões roxas nos meus fios, assistimos à série CSI: Miami, falamos de suas viagens com o filho adolescente, de música e cuidados com meu novo cabelo. Ser trancista é a única ocupação de Bia, que faz em média cinco penteados só aos fins de semana. Quando terminamos tudo, fiquei impressionada: a partir dali eu tinha tranças longas e roxas, além de uma leve dor no couro cabeludo. Depois de todo o processo, quis pesquisar mais sobre o que carregava na cabeça. Encontrei uma tese de mestrado que fala sobre a cultura de trançar os cabelos entre os negros. A autora é a doutoranda em Ciências Sociais e pesquisadora de relações étnico-raciais pela PUC-RJ, Luane Bento dos Santos. Seu trabalho parte da ideia de que o ato de trançar é uma das práticas de afirmação de identidade dentro do universo feminino negro, e por isso um patrimônio cultural e social incontestável. “No Brasil de agora, por exemplo, homens e mulheres negros que usam um black power ou os fios trançados transgridem e ressignificam o padrão de beleza. Faz parte de uma nova política da imagem do que é o ‘cabelo bom’. Veja só: neste país, na década de 1970, as pessoas sequer sentavam ao lado de negras trançadas num vagão de trem. Qual o peso que a população negra carrega até hoje por ter resistido com seus penteados? Para quem quer usar as tranças afro porque acha estiloso, digo: pense duas vezes. Elas carregam significados de reexistência, resistência e reafirmação de grupo para os negros”, explica Luane, que logo me faz pensar em apropriação cultural. É disso que ela fala quando explica que trançar os fios é algo que ultrapassa a estética. Ainda sobre a importância das tranças para a população negra de hoje, comecemos lembrando das crianças, sobretudo meninas, que têm seus cabelos trançados por suas mães e avós na tentativa de romper com o estereótipo do cabelo “embaraçado e sujo”. Essas mesmas meninas, quando adultas, têm a chance de se reconciliar com suas negritudes por meio das mesmas tranças. É um processo bonito, e digo isso por experiência própria. Me senti poderosa e reconectada com as mulheres da minha ancestralidade ao me ver no espelho com os cabelos trançados. Foi tão forte quanto tocar meus fios naturais de novo depois da transição. “Me senti poderosa e reconectada com as mulheres da minha ancestralidade ao me ver no espelho com os cabelos trançados” No livro Memórias da Plantação: episódios de racismo cotidiano (ed. Cobogo, 248 págs., R$ 48), Grada Kilomba escreve sobre o mau estereótipo conferido ao cabelo afro na contemporaneidade, lembrando que ele não era tolerado por senhores brancos no período escravocrata das diásporas – processo de dispersão forçado de africanos através do tráfico negreiro –, e que mulheres foram pressionadas a alisar seus fios para “apagar os sinais repulsivos” da negritude. Era comum que utilizassem uma haste de metal ou um ferro de passar roupas levados à brasa e que, muito quentes, permitiam modificar a texturas dos fios. Muitas ficavam com o couro cabeludo ou a testa queimados. Por essas e outras opressões, explica Grada, o cabelo afro tornou-se um importante instrumento de consciência política. “(…) penteados africanos transmitem uma mensagem de fortalecimento racial e um protesto contra a opressão racial”, continua a autora. Nilma Lino Gomes, doutora em Antropologia Social, pós-doutora em Sociologia e autora de Sem Perder a Raiz (Autêntica Editora, 406 págs., R$ 59,80), me contou que ainda não identificamos um momento histórico específico de quando os africanos começaram a trançar os cabelos. “O que temos são registros de viajantes europeus que exploraram a África por volta de 1400, antes mesmo do processo da escravidão, e relataram em seus diários e cartas o encantamento com a suntuosidade e a beleza dos penteados das mulheres e homens dos diversos reinos africanos. Dentre esses penteados, estavam as tranças.” No século 5 a.C, por exemplo, Heródoto, geógrafo e historiador grego, fez uma série de elogios à estética da população que vivia ao redor do Nilo, no Egito Antigo, descrevendo com riqueza de detalhes a forma como se arrumava o cabelo. Na busca por sinais das tranças afro na história, Maristane de Sousa Rosa Sauimbo, doutoranda em História da África da Faculdade de Letras de Lisboa (FLUL), cita uma peruca de cabelo humano datada do século 14 a.C., típica de oficiais de guerra do gênero masculino, que está no Museu Egípcio do Cairo. A tal peruca, ainda intacta, é toda trançada. As tranças da diáspora são ressignificações dos penteados utilizados nesses períodos antes de Cristo, esclarece Nilma. Hoje, as nagôs, ou tranças raiz (porque são feitas rente ao couro cabeludo), permitem construir desenhos geométricos ou símbolos na cabeça apenas por motivos de estilo. Mas a história conta um passado cheio de significados sobre elas. Os Nagôs foram negros escravizados e vendidos na antiga Costa dos Escravos (atuais Togo, Benim e Nigéria, na África Ocidental) entre os séculos 15 e 19. Os trançados feitos por esse povo eram simbólicos. “Na Colômbia, por exemplo, nos princípios do século 18, as tranças nagôs representavam mapas de fuga dos escravizados”, escreve a socióloga da Universidade Nacional da Colômbia, Lina María Vargas, em sua tese “Poética del peinado afrocolombiano”. “As mulheres faziam as rotas nos cabelos de suas crianças e estabeleciam códigos ocultos para interpretar esse guia formado por nós e tranças, que também marcavam os pontos de encontro”, completa. Nilma vai além e defende que as tranças realizadas pelas mulheres negras são exemplos de força intelectual e cultural. “Fazer tranças nos fios crespos é uma tarefa complexa e delicada. Exige destreza, cálculo, perspectiva, cuidado e um profundo senso estético.” “É um conhecimento que carregam há gerações, e não algo que se aprende em cursos ou escolas. As mulheres conhecem as tranças com suas mães e avós e repassam as técnicas” Em 2009, a profissão de Cabeleireiro Étnico e Trancista passou a ser reconhecida pelo Ministério do Trabalho e, hoje, é fonte de renda para muitas mulheres, em sua maioria negras, do país. No trabalho delas, além das tranças nagôs e soltas, estão os modelos twiste e os coquinhos ou bitos (ilustrados ao longo desta reportagem). Cada um dos penteados permite estilizações variadas e o uso de diferentes materiais além do cabelo natural. É comum o uso de fibras sintéticas da mesma cor. Os twistes são feitos com apenas duas mechas. As soltas, com três. Os coquinhos são, como o nome indica, pequenos coques por toda a cabeça. Os penteados também podem ser combinados entre si e usados juntos. Há padrões geométricos e a presença da matemática nas tranças, com a divisão do cabelo em partes iguais para a construção dos desenhos. Também se faz uso de acessórios, como brincos, fitas, pedras, conchas e búzios. “Com os penteados na moda houve uma americanização dos termos no Brasil, o twiste era conhecido como baião de dois no Nordeste ou trança de dois, em São Paulo”, explica Luane. Voltando às minhas tranças, lembro que assim que publiquei fotos delas nas redes, as perguntas começaram a vir: “O que acha de mulheres brancas usarem penteados africanos?”. Logo pensei que questões como essas precisavam de respostas que entregassem mais do que um simples “sim” ou “não”, afinal, para as mulheres negras, as tranças são herança da ancestralidade afro. Verdade seja dita: se os penteados de etnia africana são vistos como belos atualmente é graças ao processo de ressignificação que as mulheres negras fizeram com eles. “Elas são mantenedoras do legado. Preservam a prática de trançar, seja em casa, na rua e até abrindo salões de beleza especializados. É um conhecimento que carregam há gerações, não é algo que se aprende em cursos ou escolas. As mulheres aprendem com suas mães e avós e repassam as técnicas”, conta Luane. Sou filha de pai negro e mãe branca. Lá em casa não ouvi falar das tranças nem cheguei a vê-las, enquanto crescia. Desconfio fortemente que sou a primeira mulher, em muito tempo, em minha linhagem que as usou sabendo de seus significados. E tudo bem, digo a mim mesma. Que bom que elas voltaram a minha família através da minha vivência. Agora é comigo repassar esse conhecimento. Talvez este texto seja um bom começo. DA PRODUTIVIDADE AO ABANDONO VIVEM 22 COMUNIDADES QUILOMBOLAS EM MS O Incra é responsável pela regularização dos territórios quilombolas, mas o processo esbarra na morosidade Tatiana Marin 15/01/2019 Campo Grande News Mato Grosso do Sul tem 22 comunidades quilombolas certificadas pela Fundação Cultural Palmares, entidade ligada à Secretaria Especial da Cultura, do Ministério da Cidadania. Enquanto algumas já possuem pelo menos a titulação parcial do território e são bem sucedidas na produção, outras sofrem com a falta de políticas públicas. O certificado de comunidade quilombola é apenas o primeiro documento de um longo e burocrático processo realizado pelo Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), que fica sob a tutela do Mapa (Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento). “A certificação é obtida depois que a comunidade se reúne, conta sua história para a Fundação, por escrito, e solicita reconhecimento como comunidade quilombola”, explica Cláudia Pereira Gonçalves, antropóloga do serviço de regularização de territórios quilombolas do Incra. Com o certificado, pode ser dado o pontapé inicial para abrir o processo de regularização do território junto ao Incra e colocar as terras oficilamente em nome dos moradores. Das 22 comunidades certificadas, 18 deram entrada no Incra para processo de regularização de seus territórios. Elas estão tanto em Campo Grande, como nos municípios de Corguinho, Jaraguari, Maracaju, Dourados, Nioaque, Rio Brilhante, Corumbá, Pedro Gomes, Bonito, Sonora e Aquidauana. No total, abrigam cerca de 840 famílias. Apenas 4, das 18 comunidades que abriram processo receberam título de propriedade, mesmo que parcialmente: Furnas do Dionísio, em Jaraguari, Furnas da Boa Sorte, em Corguinho, Chácara do Buriti, em Campo Grande e Colônia São Miguel, em Maracaju. Segundo o Incra, pequenos detalhes faltam para finalizar o processo, mas com as últimas declarações do presidente Jair Bolsonaro, sobre o pente-fino nesses processos, o que era demorado pode ser inviabilizado. As 14 restantes estão em diferentes fases do processo, que pode levar anos. “Não depende só do Incra, às vezes vai para decisão judicial, tem recurso, mas o processo é moroso mesmo”, avalia Cláudio Roberto, chefe da divisão de ordenamento da estrutura fundiária do Incra. Depois de todos os requisitos satisfeitos, o Incra compra o território. “A terra é comprada. É pago em dinheiro, em valor de mercado. O juiz pede perícia para dar um preço justo”, descreve Cláudia. Ao final, também é definida a dimensão da área que a comunidade vai ocupar. Ainda, as famílias que pleiteiam uma área, não podem escolher qualquer lugar. “Tem que ter um histórico de ocupação, ligado com a escravidão, com algum ancestral que viveu naquele local. São grupos que viveram no meio rural, normalmente em terras que não tinham cerca, eles não tinham título de domínio. Às vezes compravam, alguns negros alforriados compravam terras. Tem áreas que a prefeitura, o estado ou a união deram. São várias situações”, detalha a antropóloga. As outras quatro comunidades que não possuem processo de regularização de seus territórios aberto no INCRA, apesar de serem reconhecidas pela Fundação Cultural Palmares, são as comunidades quilombolas Ourolândia, em Rio Negro, dos Pretos, em Terenos, São João Batista, em Campo Grande e Santa Tereza/Família Malaquias, em Figueirão. Segundo o Incra, suas demandas principais são políticas públicas e não titulação territorial. Entretanto, mesmo que o processo não esteja finalizado, as comunidades já vivem em nas áreas, mas não ocupando a sua totalidade. Algumas delas estão dentro do território urbano das cidades. Há uma exceção, que é o caso da família Jarcem, que reivindica uma área em Rio Brilhante. “É provável que as terras foram tomadas, ou perderam porque não tinham documentação e alguém registrou. Pode até ser que eles tenham o título, mas não registraram no cartório. São situações que vem lá de 1800”, analisa Cláudia. As comunidades rurais são as mais bem sucedidas, entre elas os destaques ficam para Furnas do Dionísio, em Jaraguari, e Colônia São Miguel, em Maracaju. Plantam e produzem diversos produtos, que são vendidos. Entretanto as comunidades que foram engolidas pelo crescimento das cidades enfrentam problemas de conflitos com vizinhos. “Vivem em situação difícil, com pouca área, os moradores próximos não aceitam a presença deles no local. Sem dinheiro para regularizar ou por não saber o que fazer, eles foram sendo cercados”, afirma a antropóloga. Segundo Cláudio, a última área adquirida pelo Incra cumprindo o processo de regularização de territórios quilombolas foi a de Furnas do Dionísio, em 2012. No período posterior, o Incra tem atuado nos diversos passos do processo. Para o futuro, a autarquia aguarda as resoluções do novo governo. SÍMBOLO DE LUTA COMUNIDADE TIA EVA COMPLETA 100 ANOS Jaqueline Hahn Tente Portal do Governo de Mato Grosso do Sul – 11/05/2019 Campo Grande (MS) – Um século de força, afirmação de identidade e lutas pelas causas afrodescendentes, assim podemos definir a comunidade remanescente de quilombo São Benedito Tia Eva, de Campo Grande. Que iniciou as comemorações do seu centenário na última sexta-feira (10.5), com a realização da tradicional missa em estilo Afro, celebrada pelo padre Hermes Ferreira da Silva. Além da missa, foi inaugurada a galeria de fotos dos ex-presidentes da Associação dos Descendentes da Tia Eva. O evento contou ainda com apresentações culturais e atração musical para encerrar a primeira noite de comemoração. Na ocasião os Correios de Mato Grosso do Sul lançaram um selo comemorativo aos 100 anos da comunidade, lembrando que passado e presente andam juntos com um povo que tem orgulho da sua tradição. “O Selo comemorativo reforça nosso compromisso com a cultura e com o resgate da história regional, com ele marcamos a data de forma institucional, guardando na memória e no papel um pouco da história da Tia Eva”, ressalta o Superintendente Estadual de Operações dos Correios, Genivaldo Lacerda. Segundo o presidente da Associação dos Descendentes da Tia Eva, Eurides Antonio da Silva, popularmente conhecido como ‘Bolinho’, o evento simboliza a tradição. “Nós estamos dando continuidade ao desejo da Tia Eva, que antes de falecer pediu a seus filhos que dessem continuidade a festa, e assim estamos fazendo até hoje. Sabemos que a luta é árdua, mas o amor e o legado da Tia Eva são muito mais importante”, afirma. Com o intuito de impulsionar a construção de bases de igualdade no Mato Grosso do Sul, o Governo do Estado criou em dezembro de 2014, a Subsecretaria de Políticas Públicas para a Promoção da Igualdade Racial, proporcionando o acesso à políticas públicas da população negra, quilombolas, comunidades tradicionais de matriz africana de terreiros, ciganas, ou seja, a grupos afetados por discriminação e demais formas de intolerância. “Lutamos diariamente pela igualdade de oportunidades, o povo negro se mobiliza a muito tempo, e essa comemoração é exemplo disso. Ninguém faz nada sozinho, por isso o Governo reafirma o seu compromisso com a primeira comunidade quilombola urbana de Campo Grande. Nosso papel é implantar medidas afirmativas que reduzem a desigualdade entre negros e brancos no Estado”, conclui a Subsecretária Estadual de Políticas Públicas para a Promoção da Igualdade Racial, Ana José Alves. As comemorações seguem até o dia 25 de maio com diversos eventos. História A comunidade negra Tia Eva é definida como uma comunidade urbana remanescente de quilombo desde 1905 e reconhecida pela Fundação Cultural Palmares. Tia Eva foi uma escrava antes de chegar a Mato Grosso, e trabalhou como lavadeira, parteira, cozinheira, curandeira e benzedeira. Procurada por inúmeras pessoas, tornou-se referência na comunidade. Devota de São Benedito, fez uma promessa ao padroeiro para que curasse uma ferida que havia há anos em sua perna, que após muito tempo e, conforme sua crença, milagrosamente, foi curada. Para pagar a dádiva ao santo, construiu em 1912 a igreja em sua homenagem. Desde 1919, a Festa de São Benedito acontece anualmente. Atualmente aproximadamente 200 famílias de descendentes vivem na comunidade. AFINAL, QUEM CHEGOU PRIMEIRO EM CAMPO GRANDE, JOSÉ ANTÔNIO OU TIA EVA? Descendentes de Tia Eva solicitaram à Fundação Cultural Palmares, em Brasília, um estudo sobre os antepassados, para ter registros oficiais da chegada da ex-escrava. Por Thaís Pimenta | 26/08/2018 08:33 CAMPO GRANDE NEWS Aprendem que foi o mineiro José Antônio Pereira, nascido em Barbacena, o fundador de Campo Grande. Junto a uma comitiva desbravadora, ele teria saído de Minas Gerais e chegado à cidade depois de ter trilhado a mesma rota feita pelos salvadores da pátria, durante a Guerra do Paraguai. José saiu em 1872, disposto a encontrar terras que servissem a todos seus familiares. Mas dizem que antes mesmo de José chegar à Capital, um povoado de negros já estava instalado na região. Ao menos é o que conta a historiadora e moradora da Comunidade Tia Eva, Vânia Lúcia Batista Duarte. "As comunidades negras naquela época tinham uma rede de informações, então quando Tia Eva veio para o nosso Estado, antigamente conhecido como Campos de Vacarias, outras comunidades datavam sua chegada antes de José Antônio", explica. Como a história da comunidade e da ex-escrava Eva Maria de Jesus é contada de forma oral, transmitida de geração em geração. Não há documento oficial. Por isso, é difícil, como diz Vânia, provar o que os mais velhos sempre contaram aos mais novos. "O que eu tenho dito é que ela é cofundadora da cidade, e que chegou aqui em 1905, isso com certeza ela foi". O presidente da Associação de Descentes da Tia Eva, Eurides Antônio da Silva, tataraneto da pioneira, já tomou providência para tirar as dúvidas e entender, de uma vez por todas, o passado da comunidade, mas sem nenhum registro histórico. Ele entrou em contato com a Fundação Cultural Palmares, em Brasília, solicitando um estudo dos antepassados. "A gente acredita que não será um processo difícil. Mas precisamos entender e saber de onde viemos e quando chegamos aqui", avalia Eurides, que aguarda o estudo ser finalizado. Mesmo assim, diz pouco se importar hoje com datas. Quer é reforçar a importância de Tia Eva na história. "Eu prefiro focar na importância que ela teve pra a cidade naquele período. Ela foi benzedeira, parteira, médica, mãe, tudo isso. Não tinha padre na cidade, na época, então até batizado quem fazia era a tia. As pessoas recorriam de tia Eva para ter seus filhos, vinham de longe". Nos livros - A história oficial é detalhada, em trajetos e datas. Relata que José Antônio Pereira enfrentou três anos de caminhada até a chegada no dia 21 de junho à confluência de dois córregos, mais tarde batizados de Prosa e Segredo. No período, José estava com quase cinquenta anos de idade, ao menos é o que escreve o trineto dele, Eurípedes Alves Pereira, em um documento hoje no Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul (IHGMS). O museu que leva o nome do fundador está na Fazenda Bálsamo, terra doada por José Antônio a um dos filhos, Antônio Luiz Pereira. A pequena casa de pau-a-pique, o monjolo, o silêncio só encontrado na periferia semi-rural da cidade e um carro de boi nos remetem ainda à saga construída pelos pioneiros desbravadores do sertão. "José Antônio Pereira, traçando os limites do povoado, denominou-o de Arraial de Santo Antônio de Campo Grande, em homenagem ao santo de sua devoção. Ele voltou para Minas para trazer o resto de sua família e outros desbravadores. Quando de mudança, passando por Santana do Paranaíba, foi obrigado a interromper por alguns meses sua viagem em virtude da malária que estava acometendo a população daquele lugar", pontua Eurípedes nos relatos. Uma curiosidade é que José foi prático de farmácia e adepto da fitoterapia, considerado naquela época como um bom “médico”. "Em Santana de Paranaíba, ele permaneceu tempo suficiente para acabar com a epidemia, salvando muitas vidas, tanto nessa ocasião como em outras, até o fim de sua existência. Foi lá que fez uma promessa a Santo Antônio de Pádua, cuja imagem já o acompanhava, de construir uma igreja quando aqui chegasse, caso não perdesse um só dos seus. Esta foi a origem do abençoado nome da nossa querida Campo Grande", registra o documento. Exercícios de Fixação: 1. Aonde foi encontrado o registro do primeiro hominídeo, quais eram suas condições de vida e sua identidade? 2. Como a Era do Fogo e a Era do Metal são representadas pela Mitologia Yorubá e pelas simbologias religiosas africanas? Explique: 3. O sagrado, o espírito, o invisível, as consultas de oráculos, o politeísmo e os poderes religiosos femininos e masculinos instituem as formas de ver o mundo nas culturas africanas. Como percebemos tais elementos na organização dos terreiros de Candomblé (Ilê)? 4. Em seu livro “Casa Grande e Senzala”, Gilberto Freyre analisa a constituição das relações sociais coloniais entre os senhores de engenho e os negros traficados e escravizados, por meio do mito da democracia racial. Verifique sua tese e o sentido político de seu estudo em oposição à realidade contemporânea. 5. Qual a análise social-histórica podemos fazer da relação entre as senzalas coloniais e as periferias do Brasil? Seria o camburão policial outro tipo de navio negreiro? Explique a partir da abolição da escravatura no Brasil. ORIENTAÇÃO: 1. Leia atentamente os textos de apoio (TÍTULOS EM CAIXA ALTA) e assista ao vídeo:

2. Fazer o fichamento (Nome, Autoria, Fonte, Ideias Principais) de cada texto de apoio em seu caderno. 3. Copie a lista de exercícios e responda em seu caderno. Lembrete: A nota de caderno é EXIGÊNCIA para a MÉDIA BIMESTRAL das senhoras/dos senhores.

2 Comments


Profª. Fernanda Serafim
Apr 06, 2020

Boa noite, Felipe Pedrozo.

Por gentileza, LEIA AS ORIENTAÇÕES das atividades da SEMANA PASSADA, que no caso são essas que você está "fazendo". Att.,

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Felipe Pedrozo
Felipe Pedrozo
Apr 06, 2020

Tem que copiar o texto inteiro???

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